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Sombras do Passado

Photo by Jeremy Hynes on Unsplash

Naquele dia, fui designado para a missão mais crucial de todas. Infiltrado em território inimigo, o odor de pólvora e morte impregnava o ar. O estrondo dos tiros e explosões ecoava, revelando a face brutal da guerra.

Avancei cautelosamente, desviando dos soldados abatidos pelo conflito. Após 200 metros, o prédio-alvo surgiu. O caos se intensificava; talvez aliados tentassem invadir a cidade. Helicópteros sobrevoavam o local, sinalizando a chegada iminente do meu alvo. A euforia me invadiu, mas a concentração de um atirador prevaleceu.

Dez minutos se passaram. Um tanque parou em frente ao prédio e meu alvo emergiu. Mirei sua cabeça, respirei fundo e apertei o gatilho. O tiro foi certeiro; o Presidente estava morto. A guerra, o pesadelo, as mortes... tudo chegaria ao fim.

Abandonei meu rifle e parti para o ponto de extração, 12 km ao sul. Soldados me perseguiam; eram cerca de dez. Escondi-me nos escombros, evadindo-os por pouco. Continuei, mas fui atingido perto do coração. O sangue jorrava; soldados se aproximavam, exultantes.

Meus olhos se fecharam, a respiração falhava. Olhei para o céu e avistei um pássaro, cujo canto me remeteu à minha terra natal. Uma poça de sangue se formava; memórias inundavam minha mente: o primeiro beijo, o futebol com amigos, o café amargo, a paixão pela leitura, as viagens ao som de música. E o arrependimento de nunca ter confessado meu amor.

O pássaro, agora um corvo, anunciou minha hora. Dei meu último suspiro, a mão buscando a pistola. Uma pequena explosão soou - meu passaporte para o além. Meu tempo findara; meus feitos, insignificantes. Tornei-me uma partícula entre milhões, um átomo entre bilhões. A morte se aproximou e, sem resistir, a aceitei.


Conto originalmente escrito em 15 de outubro de 2017
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